Relações Interétnicas e Sociais no Modelo Policial

Iniciativa Inédita: Policiais Catarinenses terão aulas sobre relações interétnicas e sociais.

Florianópolis - A Secretaria da Segurança Pública e Defesa do Cidadão (SSPDC), através da Academia da Polícia Civil (ACADEPOL), realizou na tarde desta quinta-feira (22) a aula inaugural da nova disciplina a ser adotada na matriz curricular nos próximos cursos de formação e capacitação dos policiais civis. Trata-se da matéria “Relações Interétnicas e Sociais no Modelo Policial”, que tem como objetivo aprofundar a discussão sobre a questão étnica e o comportamento do profissional de Segurança Pública.

A disciplina tem como ênfase a promoção da igualdade racial. A iniciativa é inédita no país. É a primeira vez que uma academia de polícia irá incorporar o tema racial em sua grade curricular. Segundo O Secretário da Segurança Pública André Luis Mendes da Silveira, a idéia é propor mecanismos para transversalizar a temática étnica nas demais disciplinas de ensino dos agentes de segurança pública. “Queremos abordar a questão étnica racial no meio policial e mostrar que o agente de segurança pública tem que atuar com a inteligência e técnica acima de qualquer preconceito”, disse o secretário.

As aulas serão ministradas por três agentes de polícia de Santa Catarina. Carlos Alberto Nascimento, Gabriel Paixão e Márcia Hendges que perceberam a necessidade de discutir a temática racial no meio policial e, com o apoio da SSPDC, Acadepol e Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania - PRONASCI, apresentaram o projeto que foi aprovado e incluído na grade curricular. As novas turmas que iniciam o curso de formação profissional em novembro já terão a nova disciplina.

A solenidade, que aconteceu no auditório da Acadepol, contou com a presença do Secretário da Segurança Pública e Defesa do Cidadão, André Luis Mendes da Silveira; vereador Márcio de Souza, prefeito em exercício de Florianópolis; Delegado Geral da Polícia Civil, Ademir Serafim; Diretor da Acadepol, Delegado Rodrigo Schneider, Consultor do Pronasci, Jorge Luiz Quadros, e o Sub-Secretário de Política de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Também participaram da solenidade diretores da Polícia Civil e representantes do movimento negro de Santa Catarina e Florianópolis.

Fatos e manchetes que tiram a credibilidade da polícia...

· Policial civil confunde universitário com assaltante e atira em 24 fev. 2010 ... Ainda que fosse um assaltante, se em fuga, nenhum policial tem o direito de atirar pelas costas;
· Polícia mata rapper a tiro em perseguição (COM VÍDEO) ... disparou e uma bala acabou por atingir o condutor pelas costas, 16 mar. 2010 ...;.
· Policial Militar atira em homem pensando que ... 14 fev. 2010 ... Policial Militar atira em homem pensando que ele era bandido ... levou um tiro pelas costas no momento em que chegava em casa, do serviço;.
· Polícia Militar atira em jovem que ia para o trabalho - 29 out. 2009 ... Polícia Militar atira em jovem que ia para o trabalho ... e tentou fugir, mas que o policial atirou na cabeça, pelas costas, e “para matar”, ..
· PMs atiram pelas costas e deixam trabalhador paraplégico
· Policial rodoviário confunde casal com bandidos e atira contra ... 30 mar. 2010 ... O casal alega que não viu quando o policial rodoviário federal deu a ordem para que
· 4 nov. 2009 ... A polícia entrou atirando. Não tinha nem bandido por perto. ... As operações com torturas, assassinato com tiro pelas costas são para .26 fev. 2010 ... Fuzil é arma coletiva, para segurança da tropa e nao para uso individual para atira pelas costas. Policial protege vidas, não as tira dessa ...
· Soldado do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) que participou da tentativa de abordagem que resultou na morte do frentista, 25 anos, alegou, em seu primeiro depoimento à Polícia Civil, que o disparo foi acidental.
· Oficial responderá por homicídio doloso - Tenente da Brigada Militar que matou tenista de 16 anos em São Leopoldo disse ontem que o disparo foi acidental.

Ser um bom policial é ter a consciência de que suas ações são avaliadas pela comunidade e devem ser praticadas dentro dos limites da Lei. De nada adianta discursos sobre ações "heróicas" de policiais se permitimos e convivemos com seus excessos.

Até quando as instituições policiais continuarão formando seus policiais para que usem suas armas letais de forma tão indevida?
São tão graves essas ações que além de traumatizar a família dos vitimados pelos disparos indevidos também vitima o servidor policial que fica abandonado pelos excessos cometidos, como se sua atuação apenas decorresse de seu caráter e nenhuma relação tivesse com a capacitação e a orientação para o exercício da função.
Até quando perseguições indevidas e tiroteios em vias públicas serão marcas da atuação policial brasileira? A quem interessa esse tipo de comportamento que normalmente se caracteriza pelos excessos e pela exposição desnecessária de indivíduos que circulam por essas vias?
O que falta às vítimas para acionarem o Estado responsabilizando-o pelos danos causados pelos excessos de seus agentes?
E o que falta ao Estado para proibir tiroteios em vias públicas que não sejam apenas para defender terceiros e aos próprios policiais, ao invés de serem provocados pela polícia?
E o que falta aos policiais para compreenderem que eles serão vítimas, assim como suas famílias, pelos excessos praticados na emoção de perseguir, atirar e errar, acertando em quem não deveria ser ferido?
A sociedade está cansada e já conhece os argumentos de defesa usados pelos policiais quando esses fatos ocorrem. Eles apenas valem para a defesa do autor mas não serve para a defesa das Instituições Policiais que todo o bom policial deve preservar.

Enquanto os comandos das corporações policiais não abrirem suas mentes para esta realidade "merecem" continuar "ouvindo especialistas" denunciar esses excessos.