O Risco do Desencanto

Após uma luta árdua para eleger o governador do Rio Grande do Sul a maioria dos agentes de polícia, filiados ao partido dos trabalhadores, simpatizantes ou que por algum motivo “nobre” acreditavam na força da legenda para enfrentar a “velha e eterna” geração da “gratificação de permanência - GP” e das “substituições” já se preparam para a passagem de mais um governo refém dos delegados de quarta classe que há três ou quatro décadas comandam a polícia civil.
A Gratificação de Permanência que deveria ser usada como medida excepcional para atender aos interesses do Estado é concedida sem a observância legal visando apenas beneficiar os “donos da polícia”. A crueldade do benefício oferta a qualquer delegado de polícia o percentual de trinta e cinco por cento sobre seus vencimentos o que, na maioria das vezes, representa muito mais do que o salário de um agente de polícia. Este se desejar receber o mesmo benefício ele não representará mais do que duzentos ou trezentos reais. Enquanto isso delegados recebem de dois mil a três mil e quinhentos reais.
Acrescido a GP somam-se mais duas substituições que acaba elevando o salário das “autoridades”, de forma artificial e injustificável, em mais de cinco mil reais. Ora, convenhamos: desumano imaginar que algum deles, terceira ou quarta classes, irá pedir para ir embora. Ao contrário, estacionam em suas casamatas, delegacias, regionais, divisões e departamentos, e dali, respaldados legitimamente por sua corporativa entidade de classe, “abatem” qualquer pretensão de renovação.
Não há promoção, não há reconhecimento de mérito, não há justiça, não há respeito institucional, não há nada. Prevalece os interesses daqueles que há décadas se apoderaram do poder do estado e ali pretendem encerrar a vida quando da aposentadoria compulsória ou quando não puderem mais se locomover da casa para o trabalho.
Enquanto isso os agentes de polícia constrangidos pela “miserável hierarquia e disciplina” aposentam-se as pencas porque não suportam a falta de respeito, a falta de direitos, o desconhecimento e a humilhação a que estão submetidos em toda sua carreira funcional. Não existe agente de polícia com ilibada conduta funcional que consiga sobreviver um tempo maior do que aquele exigido para a aposentadoria. Atingido esse momento correm para uma atividade que lhe possa complementar o salário ridículo que leva para aposentadoria depois de tanta dedicação ao Estado e a comunidade.
O próximo período governamental, possivelmente, não se caracterizará por enfrentamentos necessários. Em sendo assim, frustram-se os agentes policiais porque, mais uma vez, terão que se contentar com “migalhas salariais ou remendos legislativos” que lhes serão ofertados como principio de uma recuperação de dignidade que nunca chega ou chegará. Aculturam-se os cidadãos gaúchos em acreditar que seus policiais não merecem tratamento digno para que possam prestar um serviço mais eficaz.
Objetiva o futuro governador evitar confrontos desnecessários. Evitará que se criem falsas vítimas nas corporações policiais. Enquanto isso os agentes de polícia que são tratados como descartáveis continuarão a não ser ouvidos e a não receberem o respeito interno de seus pares que apenas se beneficiam com o seu trabalho escravo. Apenas recebem exigências e desrespeito para executarem uma obra que os próprios gestores, na maioria dos casos, não faz e não sabem nem comandar.
Quem viver verá. O desencanto propiciado por quem imaginávamos poderia encantar se torna mais cruel.