Na crise, o impeachment ou a morte

Os brasileiros, há onze meses, acompanham o confronto brutal e histérico, quase doentio, travado pela mídia e redes sociais (onde é bem mais democrático), discutindo a crise econômica e o impeachment da primeira mandatária brasileira. 

Para uns a crise econômica decorre da gestão política do atual governo, para outros é resultado da crise econômica internacional onde todos os países são afetados.  

A justificativa para o impeachment foi representada em razão das "pedaladas fiscais" apontadas pelo Tribunal de Contas da União, sustentada por seu presidente que sofre suspeição de haver advogado interesses privados, em especial a Rede Brasil Sul do Rio Grande do Sul, junto ao Carf.  

O processo de afastamento da presidenta será analisado pelo presidente da Câmara de Deputados que está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal, em razão de contas que teria na Suíça e que negou na CPI da Operação Lava Jato. 

O presidente do Senado Federal, assim como  este último, padece de uma investigação, segundo noticiários, que estaria sendo realizado pela Polícia Federal. 

Enquanto o Executivo e o Legislativo ameaçam se auto destruir, no Judiciário, após o evento Joaquim Barbosa - mensalão, surge o juiz federal de primeiro grau de Curitiba que centraliza com o máximo rigor a investigação "vaza-quinta" (dia em que declarações e denuncias chegam para jornalistas), e mandou prender os dirigentes das maiores construtoras brasileiras até que aceitem delatar os mal feitos. 

O Congresso Nacional, em especial a Câmara dos Deputados, vive um turbilhão de radicalidade onde impera uma maioria que representa grupos conservadores. Pretendem fazer com que o País, através de algumas leis, retroceda a práticas do século passado. Algumas leis ineficazes, tais como a redução da maioridade penal como se a transformação fosse contribuir para a redução da violência. Ou a flexibilização da legislação para aumentar o comércio de armas e facilitar a venda e circulação delas ao alcance de todos, o que, certamente, incentivara a violência. Assim como nova legislação para demarcação de áreas indígenas o que atendam interesses dos latifundiários deste País.  

TVs, rádios, revistas e jornais, engajados, vociferam a crise nacional decorrente da necessidade de ser declarado impeachment da presidenta da república, que não sofre acusação de ser beneficiada por dinheiro do erário, mesmo estando por muitos anos na atividade pública. Ao contrário de alguns pretensos algozes que são "totalmente enrolados". 

A grave acusação ao partido que esta no governo é de que recebeu dinheiro "de propina' para a campanha eleitoral. Com que dinheiro os demais partidos fizeram campanha? Como acreditar que o dinheiro para um era ilegal e para outro legal se a fonte fornecedora era a mesma? Como diferenciar uma coisa de outra se por toda a vida ouvimos acusações sobre o uso de caixa dois para campanhas eleitorais? 

O que temos visto são servidores públicos, de carreira ou não, devolvendo importâncias que receberam ou levaram para fora do País, resultado das negociatas.

A crise, palavra de ordem, não tem se refletido nos aeroportos nem em voos internacionais. Por quê será? Também não a vemos em hotéis de luxo, em cinemas, teatros, shows, veículos importados e zero quilômetro em bairros nobres, etc. Então a pergunta que precisamos fazer: crise a onde e de quem?

Daqueles que são ricos ou classe média alta? Não, evidente que não. Da classe média e dos pobres? Os pobres sobrevivem a qualquer crise. Mas a classe média pensou que tinha enriquecido. Graças ao grande sucesso das políticas de Lula e primeiro mandato de Dilma, a classe média imaginou ter alcançado a "riqueza" partindo para viagens internacionais, trocando de carro, frequentando restaurantes caros, esquecendo que vivem de salário.  

A crise que nos afeta é aquela que exige que aprendamos a viver com parcimônia, com economia, com cuidado. E não com o voraz consumismo estadunidense que acredita que os bens devem existir para serem consumidos por eles, mesmo que isso possa inviabilizar a vida humana na terra. 

E nós, brasileiros, terceiro-mundistas assumidos, embarcados em nossas "carroças mecanizadas" acreditávamos ouvindo Lula haver chegado ao primeiro mundo. Acordados pela mídia, precisamos do impeachment para, certamente, encontrar outro mágico que fará avançar cem anos de nossa época, onde já teremos aprendido a discutir política, a pensar no próximo, economizar, ou, ao contrário, vivermos numa terra árida onde nada mais se produza e apenas sobrevivâo os mais ricos.  

Falta poucos para alguns dizerem: "na crise, o impeachment ou a morte." 


Até quando PM e PC terão a desconfiança da populaçao

Pesquisa Datafolha informa que na cidade de São Paulo 60% dos moradores "acreditam que a PM passa mais temor do que segurança". A pesquisa indicou que 21% dos entrevistados disseram que "têm mais medo da polícia do que dos bandidos e outros 27% afirmaram que temem os dois da mesma forma". A Polícia Civil possuí índices semelhantes, onde 55% da população disse teme-la. 
Governadores, comando das polícias, entidades de classe e todos os policiais deveriam impactar-se com esses indícios. O discurso  de policia desequipada e abandonada não terá eco junto a população enquanto ela acreditar que a polícia é corrupta e violenta.







O que temos visto são grandes investimentos em equipamentos que dão aparente modernidade às polícias acompanhado por ações truculentas e equivocadas, praticadas desde o período da ditadura militar. 
Achar-se abandonado pela falta de atenção  e valorização dos policiais não justifica a continuidade de erros que têm caracterizado tanto uma como outra polícia, com nota mais negativa à PM que demonstra despreparo pelo uso abusivo da força e total desrespeito às pessoas por acharem que "estão combatendo inimigos". Tratam um homicida da mesma forma que o motorista infrator, com truculência. 
A PC escudada na desculpa de que não dispõe de estrutura e pessoal suficiente, burocratizou-se atrás do inquérito policial, atua com apenas 20% de seu pessoal na investigação de crimes, com o maior número de servidores em atividades administrativas. Esta configuração frusta a expectativa da maior parte da população que não acredita que registrar ocorrência vai resultar na elucidação dos crimes. 
A relação polícia e população brasileira é conturbada. São vistas com baixa eficiência e seletivas na forma de atuar. Apesar das disputas entre uma e outra, das acusações recíprocas, ambas estão desacreditadas porque perderam muito de seu profissionalismo e dos compromissos com suas atribuições estando muito mais preocupadas com questões internas e administrativas do que com o serviço que oferece à população. É lamentável mas verdadeira esta constatação.
O curioso é que todos os policiais sabem desta realidade mas pouco se dedicam para a mudança. Delegados e oficiais militares se digladiam por vantagens corporativas e usam os demais servidores como empregados, secretários e meros cumpridores de suas determinações. Não os respeitando como policiais, criam um ambiente promiscuo onde a corrupção, a violência e intimação são instrumentos de trabalho. 

Quando será a hora que policiais civis e militares irão se profissionalizar para prestar um serviço altamente qualificado para a população?