A Telebrás entre dois Santos
O engenheiro mecânico (com Especialização em Gerência e Engenharia de Software, em Gestão Empresarial e em Marketing) Rogério Santanna dos Santos, durante sua extensa folha de serviços públicos, evidenciou características que marcaram sua atuação profissional: obstinação, senso de "missão", profundo amor pelo Brasil, total domínio da área técnica onde atuou e grande capacidade de inovação.
Assim foi na Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa) e na Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento, por exemplo, pois em ambas revolucionou os processos, racionalizando-os, agregando novas ideias e impressionando subordinados e superiores pela excepcional capacidade de trabalho e pelas inovações que desenvolveu e implantou.
Quando presidiu a Procempa, entre 1992 e 2003, a entidade tornou-se a primeira empresa pública de processamento de dados a se transformar em uma empresa de telecomunicações, com outorga da Anatel. Durante esse tempo, também foi presidente do Conselho de Ciência e Tecnologia da Cidade de Porto Alegre. Além disso, em 2001 foi ainda vice-presidente de projetos especiais da Sucesu nacional
Em janeiro de 2003, quando assumiu a SLTI, o sistema de pregão eletrônico era responsável por apenas 0,9% das compras feitas pela administração pública. Quando saiu, nada menos que 83% das licitações já eram feitas pela internet, com mais transparência e custos menores, gerando economia para os cofres públicos de cerca de 22% dos valores gastos. Na função cumulativa de Secretário Executivo do Comitê Executivo do Governo Eletrônico, deveu-se a sua liderança e iniciativas a implantação e o sucesso do Governo Eletrônico (gov.br), do Portal de Serviços e Informações de Governo (e.gov) e da maioria das demais ações de governo na área digital, incluindo a questão do software livre. Como representante do Ministério, também foi membro destacado do Comitê Gestor da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileiras (ICP-Brasil) e conselheiro no Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.Br). Exerceu, ainda, a Vice-Presidência do Conselho de Administração do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.Br).
Por oito longos anos lutou, quase que sozinho, por um plano que pudesse levar a inclusão digital a todos os brasileiros, independente da classe social e do lugar onde morassem, o que o levou a se tornar uma figura conhecida no setor de telecomunicações brasileiro.
Ao convencer pessoalmente a então Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff sobre a necessidade de o Brasil ter um plano nacional para a banda larga gerenciado pela Telebrás, obtendo também o decisivo aval do Presidente Lula, Santanna deu início ao seu calvário de lutas diárias e sem quartel.
Atacado permanentemente pelas grandes operadoras, pelos oligopólios que dominam a mídia, pelos jornalistas a serviço destes, pelos partidos de oposição, pelo então Ministro das Comunicações e por setores do próprio governo interessados em assumir a condução da Telebrás e do PNBL, o gaúcho nunca se intimidou e enfrentou tudo e todos. Reergueu a Telebrás do pó e, apesar do tsunami de percalços e atrasos que lhe colocaram no caminho, construiu, a ferro e a fogo, as bases de um plano de banda larga nacionalista e voltado para os brasileiros.
Seu sonho era revolucionar o Brasil, levando banda larga e, consequentemente, inclusão digital, educação e desenvolvimento a todos os seus rincões e pessoas, sem distinções de qualquer tipo. No entanto, no limiar de junho, após todo o trabalho pesado já ter sido feito e quando anunciava a ligação das primeiras cidades, subitamente soube pela imprensa que seria retirado do cargo.
O incansável, visionário, "missionário" e "revolucionário" Rogério Santanna, que tanto fez por seu País e por seu partido, havia trabalhado demais nos últimos anos e esquecera-se de agregar a seu portfólio o jogo-de-cintura político necessário para garantir-lhe a sobrevivência no pantanal de vaidades e interesses onde tinha que combater. Lutando com leões e outros tipos de predadores, tinha a seu lado apenas uma legião de barulhentos mas inofensivos herbívoros. Não resistiu ao rolo compressor imposto pelo poder econômico, pelo poder político e pelo poder da mída.
Na região do Pantanal matogrossense, antes de as cheias chegarem, as boiadas são transferidas de fazenda, em busca de locais mais altos e seguros. Antigamente, para atravessar a nado os rios que têm piranha, um dos bois era obrigado a entrar na água a montante do local de travessia. Assim, enquanto as piranhas "faziam a festa" e se distraíam com a carne e o sangue do boi-de-piranha, a boiada e os cavaleiros atravessavam sem riscos o rio.
Rogério Santanna dos Santos é um dos maiores brasileiros das últimas décadas. Poucos já fizeram tanto por seu país como ele e pouquíssimos já o terão feito de forma tão apaixonada. Tomara que o Brasil saiba reconhecer tudo o que fez e o que ainda poderá fazer por seu povo.
Talvez não esteja infeliz, pois deve ter consciência de que está sendo sacrificado para que seus filhos diletos - o PNBL e a Telebrás - tenham maiores chances de se tornarem fortes e perenes, trazendo ao Brasil, especialmente aos mais pobres e desassistidos, todos os imensos benefícios proporcionados pela inclusão digital com que esse engenheiro tanto sonhou e pela qual trabalhou durante toda sua vida profissional.
Se as notícias se confirmarem, sai Rogério Santanna dos Santos... entra Cezar Santos Alvarez. Enquanto há essa alternância de Santos na presidência da Telebrás, o Brasil dos pobres e dos demais desvalidos pela sorte reza fervorosamente para que a empresa se fortaleça e se torne um dos vetores capazes de trazer todos os seus cidadãos ao mundo dos "com @". No entanto - é sempre oportuno lembrar - as legiões de Lúcifer não costumam respeitar os santos... e continuarão fazendo todo o possível para que isso não aconteça.
Postado por Leonardo Araujo às 08:15 0 comentários Links para esta postagem Enviar por e-mail BlogThis! Compartilhar no Twitter Compartilhar no Facebook Compartilhar no orkut Compartilhar no Google Buzz