Existirá policiamento comunitário sem que o cidadão confie na polícia?

"A violência, em seus mais variados contornos, é um fenômeno histórico na constituição da sociedade brasileira. Desde a escravidão, primeiro com os índios e depois, e especialmente, a mão de obra africana, a colonização mercantilista, o coronelismo, as oligarquias antes e depois da independência, tudo isso somado a um Estado caracterizado pelo autoritarismo burocrático, contribuiu enormemente para o aumento da violência que atravessa a história do Brasil."
"As causas da violência são associadas, em parte, a problemas sociais como miséria, fome, desemprego. Mas nem todos os tipos de criminalidade derivam das condições econômicas. Além disso, um Estado ineficiente e sem programas de políticas públicas de segurança, contribui para aumentar a sensação de injustiça e impunidade, que é, talvez, a principal causa da violência."
"A solução para a questão da violência no Brasil envolve os mais diversos setores da sociedade, não só a segurança pública e um judiciário eficiente, mas também demanda com urgência, profundidade e extensão a melhoria do sistema educacional, saúde, habitacional, oportunidades de emprego, dentre outros fatores. Requer principalmente uma grande mudança nas políticas públicas e uma participação maior da sociedade nas discussões e soluções desse problema de abrangência nacional." (Orson Camargo, Violência no Brasil, um outro olhar. Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, site Brasil Escola, Internet.)

Estas considerações fazem um diagnóstico conhecido da sociedade brasileira. Todos já sabem que a violência não acontece pela existência de uma boa ou má polícia, já que o trabalho policial no Brasil é limitado apenas a repressão, conforme reza nossa Constituição Federal. 

O controle social hoje existente é realizado por um seleto grupo que se autoriza a falar em nome da sociedade. Isto porque os cidadãos brasileiros, por questão de justiça, aprenderam que a responsabilidade pela segurança pública é do Estado. 

Como irão participar de fóruns sobre segurança pública ou opiniar sobre atividades de policiamento comunitário se este Estado não providenciou garantias legais que lhes dê etse direito? Ou proteção que impeça sejam perseguidos ao discordarem da ação da polícia ou da gestão das verbas destinadas à segurança pública?   

Sem estas garantias não haverá participação popular e continuaremos dependentes da força coercitiva do Estado em sua condição mais pura: policialmento caracterizado pelo uso da força.