Para quem deseja usar a polícia militar paulista como referência deve ter cuidado para não copiar seu desastrado e violento método de conter situações sociais. Lembremo-nos que no Rio Grande do Sul, por muito tempo, sua Polícia Militar enfrentava os movimentos sociais, em especial o MST, com granadas e balas como se, com violência, resolveria a questão social da reforma agrária. Muitos anos se passaram e a estratégia de violência foi alterada pela de negociação.
Em São Paulo, num rápido resgate histórico, é possível lembrar de conflitos violentos da PM com policiais civis grevistas, com vendedores ambulantes (reforçados pela violenta guarda municipal), no enfrentamento com estudantes no campus da USP e, há poucos dias, em São José dos Campos (Pinheirinho), curiosamente em área pertencente à massa falida de um grande especulador.
O noticiário nacional relata e mostra em suas imagens um grande aparato policial fortemente armado (como gostam de referir jornalistas em coberturas policiais), com seus capacetes, escudos, cassetetes e granadas, heroicamente, enfrentando crianças, jovens, mulheres pobres e sem teto executando uma determinação judicial para desocupar uma área invadida em 2004.
O Estado brasileiro e, principalmente, o tão falado pujante estado de São Paulo, por seu poder judiciário, entendeu chegado à hora de cumprir, a força, sem negociação, o despejo desses miseráveis que não receberam, até então, o direito de ter onde morar e criar seus filhos.
Constrangedoras e inequívocas imagens mostram a fragilidade dos direitos humanos neste País que não são ofendidos apenas pela ação policial, mas por um sistema político e judicial que se especializou em oprimir, humilhar e desconhecer as demandas sociais tratando-as como casos de polícia.
Os nobres arautos de um novo sistema de segurança nacional, pequenos e articulados aprendizes, rendem-se as estratégias militares, a força policial e a soluções simplificadas, escudando-se em mandados judiciais, legítimos pela lei nacional, mas ofensivos aos direitos mais básicos que qualquer cidadão tem e deveria receber do Estado: o direito de morar.
As práticas e as vantagens pela ocupação do poder político tem resultado para alguns o fim do sonho de igualdade e fraternidade. Restam discursos vazios e frágeis, que já são sendo detectados pelo mais comum dos cidadãos, que convivem com as mesmas esfarrapadas desculpas ouvidas há décadas.
O exercício do poder transforma os indivíduos e, na maioria das vezes, para o mal, permitindo que coloquem seus interesses pessoais na frente das questões coletivas que afirmavam defender.
Como esperar que a população brasileira respeite sua polícia e a defenda se ela continua esmerando-se pelo uso indevido da força sobre as pessoas que já são oprimidas pelo Estado? Não seria mais digno e responsável, antes de “atiçar” a força policial a expulsar crianças e mulheres para o meio da rua, que o Poder Público se preocupasse em acomodá-los em casas dignas onde possam criar e educar seus filhos para que não se transformem em marginais?
Para ser uma grande nação não basta ter o quinto PIB mundial. Há de se melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para que os brasileiros possam ter orgulho de seu País. E não vergonha de assistir cenas tão dramáticas e constrangedoras como às ocorridas em São José dos Campos ou nas favelas e morros do Rio de Janeiro onde crianças disputam espaços com carros de combate e armamento de guerra para a retomada de áreas abandonadas pelas políticas públicas nacional.
E o pior, ação comemorada pelos “nobres arautos aprendizes de segurança pública”. A tristeza que alguns sentem é a de estar assistindo o que já foi feito sem o resultado desejado como forma de aprender errando. Enquanto isso milhares de jovens são exterminados em decorrência do pacto social brasileiro que combina política, justiça e execução. Não há apenas um culpado> Mas um sistema de Poder praticado por aqueles que estão em cargos públicos e que oprimem os cidadãos que não têm dinheiro suficiente para “comprar” decisões que os beneficie, liberando o aparato policial para mostrar a força do Estado sobre os desvalidos.