Lembro-me da comemoração
pela eleição de Barack Obama como primeiro negro eleito presidente dos EUA.
Não entendi muito o júbilo nacional já que Obama é americano, de cultura predominantemente dominante do mundo, e nunca prometeu melhorar a vida dos brasileiros ou fazer alguma parceria com o Brasil.
Mais estranha a comemoração
porque inimaginável encontrarmos um negro apoiado por essas forças para ser
indicado ou disputar a presidência do Brasil.
A maioria dos brasileiros se
satisfaz em manifestar apoio a alguma política de igualdade racial, mas pouco
se importa com a ausência de negros nas funções de ministros, secretários de
estado, presidentes de grandes estatais, governadores, deputados, senadores e
tantas outras posições políticas destacadas, para onde são convidados
correligionários de qualquer partido.
A política nacional de
igualdade racial não passa de uma postura brasileira, principalmente de seus
governantes, em manifestar de forma dita “politicamente correta” uma suposta
igualdade inexistente. Já que não conseguem convidar negros para ocupar espaços
decisórios na gestão pública. Mascaradamente reafirmam a política racista de
que negros não estão preparados para atuar na política nacional em espaços
privilegiados.
Apoiando as ações
“politicamente corretas” os governos, as universidades e os especialistas, além
e muitas empresas privadas, preferem continuar falando na defesa dos “pobres
negros oprimidos” ao invés de investi-los no poder político onde poderiam
representar a maioria de nossa população.
Lavam as mãos ao sustentar
algumas ações PC, porém, pontuais, tais como as cotas nas
universidades ou a frágil e ineficaz lei penal. Tanto a primeira como a segunda
insuficiente para modificar o tratamento desses cidadãos.
Neste embalo surge agora à
paixão nacional pelo ministro do STF, Joaquim Barbosa. Graças ao atendimento
dos interesses políticos e a satisfação das classes dominantes da cultura nacional pela condenação
genérica que impôs aos “mensaleiros” (segundo seu julgamento). Profissionais da mídia e vozes populares afirmam que o ministro
pode ser o próximo candidato a presidente.
É possível perceber que este
direcionamento compõe um quadro que não se sustenta. Assim como na eleição de
Obama a momentânea ascensão de Barbosa não arrefece o preconceito e a
discriminação racial existente no Brasil, muito bem demonstrada nas fotografias dos
governos municipais, estaduais e federal. Nelas encontramos a imagem de um ou
dois negros, quando existem.
Que igualdade de condições é
esta?
Outras
questões ainda devem ser respondidas: a ascensão de um negro ao STF mudara as relações discriminatórias
existentes no Brasil? Estaremos frente a um processo massificado que mudará a
história do negro brasileiro? Ou tudo não decorre do mérito de um individuo que
foi escolhido, de forma “politicamente correta” (nomeado no governo Lula), para
ocupar uma cadeira no STF?
Mais ainda: estará recebendo
o apoio da mídia por encaminhar o julgamento aos termos que lhes agrada
(condenação geral e irrestrita) auxiliando a combater o governo dito
“politicamente correto” do Partido dos Trabalhadores?
São questões que devem
inquietar-nos ao contrário da euforia daqueles que repetem os mantras da grande
mídia.
Apesar do americano Obama e
do brasileiro Barbosa a discriminação racial continuará excluindo os negros que
precisam compreender que seu lugar não é aquele que tem sido indicado para nós
no Brasil. Mas outro que permita a verdadeira ascensão de um povo que
desenvolveu estas terras assim como o fizeram alemães, italianos, portugueses,
poloneses e tantos outros.
Não devemos esquecer que os
movimentos organizados, principalmente governos, universidades e especialistas,
além da grande mídia, afirmam aquilo que a maioria deseja ouvir. Coisas boas
mas diferentes da realidade. Nós temos que viver com a dura e crua realidade.