O grupo que acumula estabilidade
econômica, auxiliado por uma casta de servidores públicos que se alçam a
denominada "classe média alta" lutam para manter o Brasil como se
ainda fosse uma colônia.
Além de operar, muitas vezes, de
forma inescrupulosa para garantir o topo da pirâmide procuram ofuscar a
visão da maioria da população ao erigir temas que definem como
fundamentais para a sobrevivência dos
brasileiros. Quando, na realidade, são questiúnculas que se prestam a
tornar limitado o olhar daqueles que poderiam, pela maioria,
determinar mudanças efetivas no País.
Pior do que essas notícias é a
constatação de que não há para onde correr. Muito menos para onde
recorrer. Tudo ficará como "dantes no quartel de Abrantes". Nas mãos dos mesmos, nada mudará, a não ser a cor do papel que nos embrulha.
A questão nacional, salvo
juízo com maior sanidade, são as Instituições que estruturam este
País. Não são os indivíduos. Estes são humanos. Com todas as
qualidades, mas, principalmente, com todos os defeitos que caracterizam a espécie.
A população não acredita no
Executivo, Legislativo e Judiciário. Por mais respeito que seja dedicado a
esses poderes e seus ocupantes não dá para crer em nada do que dizem. Não querem
e não vão mudar porque sabem que a população pode ser "ludibriada” com as
falsas causas sustentadas por discursos demagógicos e hipócritas.
São levados a discutir
qual é o melhor partido político a ser defendido, e qual o melhor nome para ser
eleito. A cada eleição acabam decidindo pelo interesse econômico ou simpatia, já
que nenhum promete enfrentar essa cultura escravagista e secular que mantém a
maioria da população alienada de seus direitos.
Enquanto as Instituições
Nacionais não forem resgatadas, limpas e transparentes,
o Brasil continuará sendo um País mal amado por quem jura defendê-lo. Enquanto
prevalecer os interesses de pessoas sobre os interesses da Nação nada há que
ser reclamado.
Ilustro este pequeno comentário com o texto do Blog de Bob Fernandes, publicado no site Terra.
A escravidão no Brasil perdurou por 386 anos. São quatro quintos da nossa história. Na escravidão, os Senhores, ou as Senhoras, moravam na Casa Grande. E os escravos se amontoavam na Senzala.
Escravidão por quase quatro séculos deixa uma ferida profunda em qualquer sociedade. Muito fica, permanece nos hábitos mesmo que muito se dilua no tempo e nos costumes. O hábito de voar nos aviões da FAB não nasceu do nada. E sobrevive porque as raízes culturais são fundas.
Todos esses Senhores e as Senhoras que voam e revoam são conhecidos como "Pessoas Muito Importantes". São VIPs, para usar uma expressão tão cara aos mundos de Caras. Assim é, tem sido o Brasil desde sempre. Assim é no céu como é na terra.
É claro que existem VIPs mundo afora, mas por aqui tem sido cada vez mais comum espaços para os ainda mais VIPs. E uma coisa são VIPs no mundo privado; ai é uma questão de gosto. Outra coisa são VIPs usando bens e espaços públicos. Como no caso dos aviões da FAB.
Ou como em tantos exemplos no Brasil. Caso dos camarotes. Tem os que são privados, como o do Luciano Hulk na final da Copa no Maracanã, onde vai quem é convidado. E também quem não deveria ir. E tem, como na Bahia, camarotes que invadem espaço público.
Um enorme camarote, chamado Salvador, ocupa via pública no bairro de Ondina nos carnavais. Já há anos sua montagem começa nos dias seguintes ao Natal.
A via pública é escandalosamente tomada e não há quem consiga impedir. E não só esse e isso: a montagem da "camarotagem", como quem não quer nada, mas querendo, ocupa também calçadas.
Nesse mesmo carnaval, blocos privados usam "cordeiros" nas ruas. "Cordeiros" são pessoas que recebem uma miséria para, com cordas, proteger blocos privados. Para tal proteção expulsam das avenidas, esmagam nas calçadas quem não pode pagar para fazer parte dos blocos.
Tudo isso transmitido por emissoras de TV para todo o país. Há décadas. E já assimilado, inclusive pelos anunciantes, como se tudo fosse muito natural e normal. Assim, na terra é como é nos céus.
Na Copa que acabou de acabar só entrou nos estádios quem tem dinheiro. Multidões brancas num país também mestiço e negro. Na Flip, de Paraty, Gilberto Gil falou sobre isso. Gil foi um raro negro brasileiro protagonista numa Flip de plateias brancas.
Estatísticas nacionais e internacionais mostram: nos últimos 15 anos o país teve acentuada melhora nos indicadores sociais. Mas nem por isso deixou de ser a segunda pior distribuição de renda do mundo. Pior que o Brasil, só Serra Leoa, na África.
Quase quatro séculos de escravidão; VIPs e camarotes; vergonhosa distribuição de renda… E uma novidade, que brota das ruas: até que enfim o escândalo com aviões que não são de carreira.