Acredito que existem assuntos que devem ser
tratados de forma continua e permanente, porque existem problemas que não deixam
de existir.
Algumas pessoas desconhecem o problema ao afirmar
que no Brasil não existe racismo e que os negros, principalmente aqueles
militantes, é que são racistas, já que lutam contra algo, segundo eles,
inexistente. Na esteira rasa das teses racistas dizem não compreender o
papel das cotas nas universidades, muito menos a obrigação do Estado em
oferecer alternativas que permitam o acesso dos negros a espaços mais nobres
que não dependem apenas da questão econômica.
A clássica e interminável confusão
entre preconceito e discriminação fundamenta os argumentos dos que
insistem em dizer que os negros discriminam. Nunca é demais lembrar
que o preconceito é fruto da formação de qualquer individuo. Ele elabora
suas concepções e com elas vive. Sendo assim, qualquer individuo
independente de raça, credo ou opção sexual, estrutura-se com seus
preconceitos.
O que deve ser enfrentado não é o
preconceito existente na intimidade das pessoas. Mas a discriminação que aflora
nos manifestos e atos por elas realizados.
Segundo a
Convenção Internacional para a Eliminação de todas as Normas e Discriminação
Racial da ONU,
Ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968:
A discriminação racial “significa qualquer
distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor,
ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir
ou dificultar o reconhecimento e/ou exercício, em bases de igualdade, aos
direitos humanos e liberdades fundamentais
nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida
pública".
Em nosso País, por mais que convivemos de forma
harmoniosa entre negros, brancos, índios, ciganos, e tantas outras raças,
é visível à discriminação protagonizada por pessoas e organizações. Na
educação, mercado de trabalho, e outras atitudes cotidianas que demonstram que
ela existe de forma velada e cruel, daí ser necessário o seu
reconhecimento para que se lute para sua redução.
Este problema é notado, literalmente, nas
fotografias dos governantes brasileiros, das empresas públicas e privadas, dos
meios de comunicação, dos frequentadores de shoppings, bares, restaurantes,
cinemas, aeroportos, e por ai vai... Se mais da metade da população é composta
de negros ou descendentes como é que este percentual não aparece nesses espaços?
Notícias da semana relatam nos Estados
Unidos (presidida por um negro, coisa impensada no Brasil), assim como a
Itália, a ocorrência de fatos que trazem a tona a forte discriminação racial
que acontece naquelas nações. Um jovem negro de 17 anos, carregando
um pacote de doces nas mãos foi morto no ano passado. O
assassino, um maluco fantasiado de guarda comunitário,
armado, defendeu-se em juízo, e por isso absolvido, argumentando
que se sentiu ameaçado por aquele individuo em "atitude
suspeita". O clássico argumento que usam as policia militares para
tentar justificar o abusivo número de jovens negros assassinados no
Brasil.
Não melhor foi a manifestação de senador
italiano sobre a ministra negra de seu País. Sem maiores comentários a não ser
o repudio veemente a indivíduos que acreditam que na cor da
pele como diferencial.
Por isso acredito que os negros
brasileiros não podem esquecer a cor de sua pele. Ela foi, esta
sendo, ou será determinante por constrangimentos e oportunidades.
O discurso oficial brasileiro sobre a questão
racial fundamenta-se apenas pela inexistência de conflitos raciais. Mas
não se sustenta em razão da discriminação visível que sofrem os
negros brasileiros. .