Manifestações legítimas pichadas com badernas e destruição!

Dez anos já se passaram e a esperança tornou-se um fio.

Já que o momento exala liberdade e direitos irrestritos de manifestação, segundo alguns afoitos o “gigante acordou”, não devemos nos furtar de exprimir nossa opinião, mesmo quando ela não se acomoda no sentido da correnteza das opiniões lançadas, neste momento, nas redes sociais.

Tendo sido policial por toda a vida não deveria, de uma hora para outra, achar que a polícia é a causadora de qualquer caos social numa sociedade. Sendo o braço armado do Estado, que tem a responsabilidade de garantir os direitos de cidadania, resta às organizações policiais, em qualquer parte do mundo, a obrigatoriedade de atuar para manter a ordem social ameaçada ou quebrada. Garantir os direitos da maioria, quando possível, sem o uso da violência e, quando necessário, evitando excessos danosos a si e as outras pessoas. O uso da força não é uma solução é uma alternativa quando o dialogo inexiste.

A análise que interessa ser feita, a partir da demonstração dada pelas forças policiais na noite de ontem, ocasião em que atuaram no monitoramento, observação e acompanhamento das manifestações, é sobre o momento político pelo qual passa o Brasil. Obviamente, retirando desta análise os excessos, tanto de um lado quanto de outro, que não podem ser classificados como motivadores do movimento.

Uma dezena, quando não centenas de razões têm mobilizados esses brasileiros que tem ido as ruas demonstrar sua insatisfação. Mas, provavelmente, uma fundamenta a insatisfação de todos: a corrupção. Não aquela simplória do pagamento de propina para evitar uma pequena multa. Mas a cultura de corruptores e de corruptos que herdamos de nossa colonização, a qual apelidamos “como o jeitinho brasileiro”.

Todos, sem exceção, nos sentimos “sagazes, ardilosos, arteiros, astuciosos, buliçosos, espertalhões, manhosos, pícaros e vivos” quando burlamos a lei de forma a não cumpri-la. Principalmente se para isso tivermos que usar nosso velho e mal cheiroso “jeitinho”.  Mas temos a doce capacidade de não entender esse “jeitinho” como um ato de corrupção. Queremos crer que apenas os políticos são corruptos. Afinal, o que fizemos foi resolver uma pequena questão que exigia aquele tipo de conduta.

Vivemos um momento impar, onde elegemos governantes que prometiam mudar aquelas questões que há mais de quinhentos anos escravizavam os trabalhadores brasileiros. Melhorar as condições de vida de todas as pessoas era a meta a ser seguida. Mas algo aconteceu nesta trilha. Alguma coisa foi perdida entre o discurso e a prática. Entre estar na oposição e ser situação. O Poder político parece que transformou revolucionários em burocratas, e as soluções que antes se vislumbravam passaram a ser remediadas e negadas pelas mesmas desculpas daqueles que foram retirados do Poder.

Aqueles que acreditavam na transformação e uma boa parte da população percebem que não haverá um novo Brasil. Algumas melhoras são notadas, mas acontecem sem a velocidade necessária para melhorar suas vidas. Dez anos já se passaram e a esperança tornou-se um fio.  

O “capitalismo selvagem” que tanto era combatido em discursos continua por ai.  A chamada “nova classe média” respira através de um balão de oxigênio. Basta fechá-lo por alguns minutos que a morte acontecerá, já que não foram criadas garantias seguras de sobrevivência (saúde, educação e segurança). Esta é a insegurança que assombra a maioria da população.

É sobre este sentimento, sobre esta sensação que todo e qualquer cidadão brasileiro, excetuado aquela minoria privilegiada, que se locupleta com o lucro e a exploração dos trabalhadores, tem se manifestado nas famílias, nas rodas de amigos e agora nas ruas. O torniquete esta insuportável. Ele faz com que aja uma reação. E ela é barulhenta e irá exigir de nossos ex-revolucionários que se desacomodem do banco traseiro dos carros oficiais e digam por qual motivo quiseram ocupar o Poder.

As manifestações são legítimas, todos dizem, são violentas porque ninguém controla uma massa, mas necessárias para que possamos exigir que nos expliquem como uma proposta ideológica popular consegue mesclar-se com propostas tradicionais que nunca realizaram nenhuma ação concreta para a mudança no Brasil.