Já que o momento exala liberdade e direitos irrestritos de manifestação, segundo alguns afoitos o “gigante acordou”, não devemos nos furtar de exprimir nossa opinião, mesmo quando ela não se acomoda no sentido da correnteza das opiniões lançadas, neste momento, nas redes sociais.
Tendo sido policial por toda a
vida não deveria, de uma hora para outra, achar que a polícia é a causadora de
qualquer caos social numa sociedade. Sendo o braço armado do Estado, que tem a
responsabilidade de garantir os direitos de cidadania, resta às organizações
policiais, em qualquer parte do mundo, a obrigatoriedade de atuar para manter a
ordem social ameaçada ou quebrada. Garantir os direitos da maioria, quando
possível, sem o uso da violência e, quando necessário, evitando excessos
danosos a si e as outras pessoas. O uso da força não é uma solução é uma
alternativa quando o dialogo inexiste.
A análise que interessa ser feita,
a partir da demonstração dada pelas forças policiais na noite de ontem, ocasião
em que atuaram no monitoramento, observação e acompanhamento das manifestações,
é sobre o momento político pelo qual passa o Brasil. Obviamente, retirando desta
análise os excessos, tanto de um lado quanto de outro, que não podem ser
classificados como motivadores do movimento.
Uma dezena, quando não centenas
de razões têm mobilizados esses brasileiros que tem ido as ruas demonstrar sua
insatisfação. Mas, provavelmente, uma fundamenta a insatisfação de todos: a
corrupção. Não aquela simplória do pagamento de propina para evitar uma pequena
multa. Mas a cultura de corruptores e de corruptos que herdamos de nossa
colonização, a qual apelidamos “como o jeitinho brasileiro”.
Todos, sem exceção, nos sentimos “sagazes,
ardilosos, arteiros, astuciosos, buliçosos, espertalhões, manhosos, pícaros e
vivos” quando burlamos a lei de forma a não cumpri-la. Principalmente se para
isso tivermos que usar nosso velho e mal cheiroso “jeitinho”. Mas temos a doce capacidade de não entender
esse “jeitinho” como um ato de corrupção. Queremos crer que apenas os políticos
são corruptos. Afinal, o que fizemos foi resolver uma pequena questão que
exigia aquele tipo de conduta.
Vivemos um momento impar, onde
elegemos governantes que prometiam mudar aquelas questões que há mais de
quinhentos anos escravizavam os trabalhadores brasileiros. Melhorar as condições
de vida de todas as pessoas era a meta a ser seguida. Mas algo aconteceu nesta
trilha. Alguma coisa foi perdida entre o discurso e a prática. Entre estar na oposição
e ser situação. O Poder político parece que transformou revolucionários em
burocratas, e as soluções que antes se vislumbravam passaram a ser remediadas e
negadas pelas mesmas desculpas daqueles que foram retirados do Poder.
Aqueles que acreditavam na
transformação e uma boa parte da população percebem que não haverá um novo
Brasil. Algumas melhoras são notadas, mas acontecem sem a velocidade
necessária para melhorar suas vidas. Dez anos já se passaram e a esperança
tornou-se um fio.
O “capitalismo selvagem” que
tanto era combatido em discursos continua por ai. A chamada “nova classe média” respira através de
um balão de oxigênio. Basta fechá-lo por alguns minutos que a morte acontecerá,
já que não foram criadas garantias seguras de sobrevivência (saúde, educação e
segurança). Esta é a insegurança que assombra a maioria da população.
É sobre este sentimento, sobre
esta sensação que todo e qualquer cidadão brasileiro, excetuado aquela minoria
privilegiada, que se locupleta com o lucro e a exploração dos trabalhadores,
tem se manifestado nas famílias, nas rodas de amigos e agora nas ruas. O
torniquete esta insuportável. Ele faz com que aja uma reação. E ela é
barulhenta e irá exigir de nossos ex-revolucionários que se desacomodem do
banco traseiro dos carros oficiais e digam por qual motivo quiseram ocupar o
Poder.
As manifestações são legítimas,
todos dizem, são violentas porque ninguém controla uma massa, mas necessárias
para que possamos exigir que nos expliquem como uma proposta ideológica popular
consegue mesclar-se com propostas tradicionais que nunca realizaram nenhuma
ação concreta para a mudança no Brasil.