Discordo veementemente do texto publicado no Jornal Estado de São Paulo, que aponta para a possível ocorrência de um chamado “APAGÃO POLICIAL” no Brasil.
Os policiais já sofrem por serem acusados de corruptos, violentos e por não reduzirem a violência e criminalidade que ocorre, principalmente, entre os jovens de 15 a 29 anos, como se a culpa fosse apenas sua.
Apesar de entender que dar visibilidade ao tema é de vital importância, acredito que não deva pairar, sobre a ação policial, nenhuma expressão que transmita à população a idéia de ineficiência e de falta empenho dos servidores ligados à segurança pública.
Historicamente, esta questão é tratada de forma equivocada por pessoas que se auto-intitulam especialistas. Inevitavelmente, em suas análises, deixam transparecer o desagrado que tem com o segmento policial, ignorando premissas básicas que deveriam ser trazidas ao conhecimento público. Dentre estas, a falta de uma política nacional de segurança pública que decorre de uma desastrada gestão realizada por quem desconhece a realidade do problema. A cada governo novas ações são realizadas consumindo verbas públicas sem apresentar resultados efetivos na redução e controle da violência e criminalidade.
Necessário também deixar claro à população que os investimentos públicos não são definidos pelas organizações policiais, mas por políticos que não priorizam a questão.
A crise na segurança pública e a redução de investimentos estaduais na polícia vem ocorrendo há décadas. E por todo esse período, diversos governos e especialistas estiveram decidindo investimentos e ações. Experimentos temporais que apenas servem para atender às prioridades políticas do momento, mas que acabam modificados com a assunção de um novo gestor, seja pela total falta de resultados, ou pelas inconsistências na implementação.
Há quanto tempo assistimos a discussões sobre ciclo completo de polícia, unificação das polícias, integração do trabalho policial, uso da tecnologia da informação a serviço da prevenção? Há quanto tempo ouvimos os lamentos dos servidores policiais sobre o indigno salário que recebem, sobre as condições insalubres das delegacias de policia e postos policiais? Sem esquecer o absurdo que é o sistema prisional.
Durante todo esse tempo, mais de quatro décadas, no mínimo, não houve um “apagão policial”. Não houve nem haverá porque a polícia brasileira é boa. Como não poderia deixar de ser, se nivela aos demais serviços públicos que o estado brasileiro oferece aos seus cidadãos. Ou dirão que o Poder Judiciário, Ministério Público ou o Serviço de Saúde Pública são melhores do que a Polícia Brasileira?
A prova de que a polícia brasileira é de qualidade está demonstrada na ação realizada no Rio de Janeiro com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora. A “novidade” é velha: são policiais atuando em áreas aonde os demais serviços públicos não chegam.
Precisamos, na realidade, é que o sistema de segurança pública seja integrado (justiça, ministério público, sistema prisional, guardas municipais, perícia e polícias). Que as necessidades policiais sejam definidas por quem efetivamente presta o serviço de polícia. Que a insegurança social, que aflige a maior parte da sociedade brasileira, seja atendida por políticas de inclusão social de educação, cultura, lazer, trabalho e emprego. E, principalmente, que os servidores policiais sejam tratados da mesma forma como aqueles que trabalham no judiciário, no ministério público, no legislativo e em tantos outros lugares onde não falta verba pública.
A infeliz afirmativa de que os estados não têm dinheiro para pagar salários dignos aos policiais é uma grande inverdade. Ou melhor, uma grande mentira. Não existe um projeto de recuperação salarial porque não se prioriza a vida e a segurança dos cidadãos.
O “apagão” que há décadas ocorre na segurança pública não é da polícia. É de irresponsabilidade política dos gestores públicos para com a população brasileira que sempre pode e continuará contando com sua polícia.