'Vi quando ele tomou o tiro'

Rapaz diz que foi baleado por PMs entre 20h30 e 20h40, na Favela Dano
Mais de dez dias após um tiroteio na Favela Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a polícia ainda procura pelo menino Juan, de 11 anos, que desapareceu durante o confronto, na segunda-feira (20). Juan, o irmão dele, Wesley, de 14 anos, e Wanderson dos Santos de Assis, de 19, foram baleados na troca de tiros, que teria sido entre policiais e traficantes.

Por telefone, Wanderson contou que viu quando Juan foi alvejado: “O pequenininho passou na minha frente. E assim que a gente saiu, chegou no finalzinho do beco, aí começou o tiroteio. Eles começaram a atirar. Muito tiro. Aí ele foi baleado, eu tomei três tiros. Eu vi quando ele tomou o tiro. Ele estava na minha frente, então eu vi. As balas vinham de uma direção só”, disse.

Juan vinha da casa de um amigo com o irmão quando ocorreu o confronto. A caminho de casa, os meninos precisavam cruzar um caminho entre os muros altos de duas casas. E foi nesse ponto que eles foram alvejados. No local ainda estão as marcas que a perícia fez de onde foram encontradas manchas de sangue.

Em depoimento, Wesley disse que tomou um tiro no pé e viu o irmão caído, ensanguentado. Ele contou que tentou ajudá-lo, mas recebeu outro tiro, dessa vez no ombro. Então, ele se arrastou para fora do beco. Foi o último momento em que Juan foi visto com vida.

Jovem está convencido de que PMs atiraram - Os dois irmãos passaram por Wanderson quando entraram no beco. Wanderson, ainda está internado no Hospital Adão Pereira Nunes, tratando de ferimentos à bala na perna e nas costas. Ele está convencido de que foram os policiais que atiraram nos meninos. “Falaram que eu troquei tiro com eles. Então foram eles que atiraram, certo? Pelo que dá para eu entender”, confirma ele.

O jovem conta que ele teria sido baleado por volta das 20h30 e 20h40. A informação é conflitante. Os PMs disseram que foram ao local por causa de uma denúncia da presença de traficantes feita pelo serviço 190. A chamada registrada na central é de 20h54, portanto, depois de os três já terem sido baleados. A gravação não foi divulgada pela polícia.

Wesley e Wanderson conseguiram escapar. Wanderson ligou para o pai, que mora perto, e pediu socorro. O pai do rapaz, cuja identidade foi preservada, disse que quando chegou ao local para socorrer o Wanderson, a polícia ainda estava lá, mas não viu criminosos. Ele encontrou o filho ferido 20 minutos depois e o levou para o hospital. "Eu só pensava no Juan", diz mãe.

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Prisão

Ao hospital, os PMs chegaram trazendo outro baleado: Igor de Souza Afonso, 17 anos, que morreu em seguida. Ele não tinha passagem pela polícia. Ao saber que havia mais dois feridos a bala, os policiais os prenderam: eram Wesley e Wanderson.

“Aquilo me deu desespero de perder o Juan e ao mesmo tempo meu filho ser preso como um traficante”, explica a mãe de Wesley.

O pai de Wanderson negou que o filho fosse traficante. "Eu disse: 'Não, meu filho, não. Meu filho é trabalhador, ele estuda. Ele não tem tempo de traficar, não’”, disse ele.

Há um ano Wanderson trabalha, com carteira assinada, em loja de doces. “Em momento algum a gente acreditou nisso, porque a gente sabe quem ele é, quem é a família dele,” disse Vivian Nascimento, colega de trabalho de Wanderson, que estuda à noite a duas quadras do trabalho.03/07/2011- Do G1, com informações do Fantástico