Jovens que usam a motocicleta como meio de transporte - e não para trabalhar – são a maioria das vítimas de acidentes com esse veículo atendidas pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas. A pesquisa feita com os pacientes mostrou ainda que muitos voltam a pilotar uma moto mesmo depois de passar por várias cirurgias e até ficar com sequelas.
Entre dezembro de 2009 e julho de 2010, mais de 250 pacientes participaram da pesquisa. Quase 70% deles usam moto como meio de transporte e não para trabalhar; 54% tem menos de 28 anos; 82% não voltaram ao trabalho depois de seis meses; e 80% dos motociclistas precisaram de dinheiro extra depois do acidente.
“Não é um custo para a sociedade um custo só hospitalar, mas um custo na vida dessa pessoa, porque ela muda totalmente sua vida. Então ele deixa de ter uma vida ativa e acaba se restringindo a família que tem que se reorganizar nesse momento porque alguém vai ter que parar de trabalhar, ou vem um familiar do interior morar com essa pessoa para poder ajudar em casa”, fala Kátia Campos dos Anjos, responsável pela pesquisa.
Josimar de Souza Santos, agricultor, caiu da moto há 10 meses em Caruaru, Pernambuco. A lesão foi no pescoço. Ele ficou internado em hospitais de Caruaru e Recife, mas achou melhor vir para São Paulo. “Nove meses que eu não trabalho. Tenho três filhos e, para sustentar, o povo me ajuda, minha mãe ajuda também”, conta ele.
Na mesa de cirurgia, o procedimento é delicado, complexo e longo. Josimar passará pelo menos seis horas no centro cirúrgico com oito médicos trabalhando para tentar recuperar a lesão que ele sofreu. A operação consiste em retirar um músculo da coxa e colocar no braço.
Médicos dizem que é preciso tratar acidente de moto como epidemia “De cada 10 casos de lesão desses nervos que a gente tem aqui no instituto, eu diria que pelo menos uns nove são decorrentes de acidentes de moto. Somente agora, depois de quase um ano, é que está sendo possível operá-lo para tentar restituir o movimento, ainda que parcial, da região do membro superior”, explica o ortopedista Marcelo Rosa Rezende.
O procedimento é caro e o custo com os acidentados maior ainda – chega a R$ 300 mil só nos primeiros meses de tratamento. “Quanto mais pacientes desse tipo você tem, mais você está tirando esse dinheiro do Sistema Único de Saúde. Possivelmente, esse dinheiro vai para atender motociclistas e deixa de atender outras doenças que também precisam”, diz Júlia Maria Dandrea, médica do HC. 01/07/2011 Do G1 SP.