Desarmamento pago não muda cultura.

Após o estúpido massacre ocorrido na escola municipal do Rio de Janeiro, a mídia, como não poderia deixar de ser, tem explorado ao máximo o ocorrido. Em todos os canais de rádio e televisão desfilam especialistas de toda ordem: segurança, psicologia, sociologia, pedagogia, antropologia, dentre outros tantos. Uma infinidade de figuras que transmitem suas impressões que acabam ampliando a sensação de insegurança e de descontrole para todas as escolas do Brasil, como se aquela ação fosse rotineira e lógica. Alternativas para evitar que tais fatos se repitam são sugeridas sem a mínima coerência ou fundamento. O importante, para eles, é manifestar opinião que mantenha audiência em alta e garanta mais espaços a esses “conselheiros” futuristas. Os governos, em seus três níveis, municipal, estadual e Federal, reúnem-se emergencialmente e decidem ações que lhes garantam o reconhecimento político de que estão fazendo alguma coisa. A maioria dessas decisões são velhas, ineficazes e temporais. Não evitarão coisa alguma, apenas serão ações políticas que transmitirão o sentimento de algo foi feito. Polícia nas escolas, detector de metais nas portarias, monitoramento em salas de aula, transformando o ambiente de aprendizado em locais inadequados para o ensino. Felizmente sabe-se que, apesar desses especialistas noticiosos, irá prevalecer a lógica de que a escola é um ambiente seguro e no qual deve prevalecer a cultura da paz, da formação e da conscientização de que a violência parte de cada um de nós e não apenas dos outros. Aproveitar o momento para reativar o programa de desarmamento nacional a partir da comoção decorrente do massacre da escola Tasso da Silveira é correto. Imaginar que pelo desarmamento iremos modificar a condição de violência existente no Brasil é pensar mais do mesmo. As discussões sobre a violência e a criminalidade devem iniciar por investimentos maciços do estado, em primeiro lugar, encaminhando ações efetivas para aplicar projetos de recuperação daqueles que cumprem condenações judiciais. É injustificáveis que há décadas sejam usadas as mesmas desculpas para não modificar a situação. É inacreditável que meninos e meninas que cumprem penas sócio-educativas não recebam acompanhamento e profissionalização para que tenham condições de tocar suas vidas sem reincidir na criminalidade. Não é falta de dinheiro. É falta de prioridade. Ignorar que as condições subumanas onde vive grande parte de nossa juventude contribuem para a manutenção dos atuais níveis de violência é, na realidade, concorrer para que nada mude. Muitos dirigentes políticos deixaram de circular por vilas e bairros de nossas cidades onde os jovens perambulam de um lado para outro pela total falta de ocupação social. Não recebem incentivos para a prática de ações culturais, esportivas ou de reforço escolar. A proposta de desarmamento desarticulada de um conjunto de ações sociais focadas nessas áreas será mais uma ação destinada ao insucesso. E o pior; a campanha não será educativa se vier motivada pela indenização financeira. Envolver o cidadão em qualquer projeto de seu interesse não deve ser confundido como uma ação mercantil. A campanha de desarmamento deveria ser permanente e realizada visando mudar a concepção do cidadão ensinando-lhe que as armas mais matam do que salvam. O Brasil transita por um momento de liberdades sociais e democracia plena. Deve, porém, propor a seus cidadãos a compreensão de que devemos ter limitações em nossos atos para que possamos viver em harmonia, mediando nossas diferenças e reduzindo a intensidade dos conflitos diários. A força e as armas apenas devem ser usadas para recompor o tecido social quando ofendido e nunca para sustentar pretensos direitos deste ou daquele.