A questão da polícia no Brasil e
do massacre praticado contra jovens negros decorre do estado racista que impera
na gestão política do Brasil e de todas as Unidades Federadas. A legislação
nacional, em tese, nega esta condição racista. Mas basta ver a fotografia dos
ministros brasileiros, dos secretários estaduais e dos secretários municipais
para percebermos que existe um discurso frágil e uma ação concreta que
discrimina os negros de estarem em posições políticas de tomada de decisões.
Apesar dos negros já serem maioria neste País o fato não se reflete no comando
das políticas e das verbas públicas que são investidas em projetos de interesse
dos grupos dominantes e não da maioria da população, entre esta a população negra.
Na polícia não tem santo nem
herói. Existem profissionais que são selecionados (mal), treinados (de forma
amadora) para, de arma em punho, atuar, pelo uso da força, recompondo o tecido
social ofendido por aqueles que não respeitam os limites da lei. Lógico que
isto é bom e necessário.
Mas por que a polícia age de
forma violenta e agressiva contra os cidadãos brasileiros e, principalmente,
contra os negros e pobres? Por que os gestores federal, estadual e municipal,
afirmando que no Brasil não existe racismo, não se sensibilizam com os dados
impactantes que demonstram que jovens negros, de 14 a 29 anos, são os que mais
morrem e que mais matam.
Existe uma casta de profissionais
que se auto intitula especialistas em segurança pública que sugerem alternativas
para melhorar a polícia. Falam em unificação:
criação de uma organização com mais de seiscentos mil profissionais armados. Ignoram
que uma força policial deste tamanho, maior do que o exército nacional, não
teria comando único; outros dizem que elas disputam
competências. Esquecem de confessar que
não quiseram regulamentar o parágrafo 7º do art. 144 da Constituição Federal de
l988, o que tem permitido essas disputadas; não referem que a existência de
duas policiais permite que uma fiscalize
a outra, o que é salutar pra a sociedade.
Ainda falam em polícia cidadã,
polícia inteligente, polícia comunitária, e outras tantas (in) definições que
não alteram em nada o papel da polícia nem a forma como ainda atuam. Nenhuma
dessas modernas definições tem o caráter e a coragem de enfrentar um debate
nacional contrariando a vontade popular e governamental que deseja e prepara a
polícia para agir com violência e truculência contra os pobres e discriminados
que são, na compreensão popular, potenciais criminosos. Quem do povo ou de
governo quer perdoar ou recuperar um criminoso? O povo quer vê-los na cadeia enquanto
o governo lhes garante depósitos humanos sem alternativa de recuperação.
Tão verdadeira é a afirmativa acima que aos governantes compete desrespeitar os policiais com discursos demagógicos usando a estratégia de melhorar os ganhos e privilégios de quem comanda as corporações policiais para que eles comprimam a base operacional para que atue, a cada dia, com maior rigor extirpando, à bala, os inconvenientes “criminosos”, a maioria deles meninos pretos e pobres que usam roupas desalinhadas a pretensa cultura nacional.
Ao fim de cada evento político onde os policiais gritam pela necessidade de mudar o status atual, o poder político Brasileiro estabelece que a polícia está cheia de marginais e que precisa ser mudada.
Mas não propõe nenhuma ação
que inicie um processo de recomposição da verdade, ou seja: coragem
para transformar a polícia militar numa polícia fardada que tenha como
atribuição o policiamento ostensivo e preventivo, e a profissionalização da
polícia judiciária para que concentre seu pessoal e suas atividades na
investigação criminal e não na elaboração de burocratizados inquéritos
policiais.
Os governantes fazem a gestão da segurança pública e das questões policiais através de administradores que não têm conhecimento nem capacitação técnica sobre o tema, e por isso se assessoram de coronéis e delegados, a maioria satisfeita pelos privilégios que usufruem. Priorizam Investimentos em equipamentos, muitos de forma duvidosa, sem nenhuma preocupação com aqueles que os operam e prestam serviços diretamente à população.
Podemos ter certeza de que a
crise na segurança pública ou da polícia não é maior do que a crise no estado brasileiro que é coautor da
violência e assassinatos praticados por sua delegação, assim como pela conivência
de grande parte da sociedade brasileira organizada que exige do Estado uma polícia
para oprimir pobres e desprotegidos socialmente.