O velho posto policial renomeado de UPP

Na segurança pública brasilera nunca há inovação. Os governantes não têm capacidade nem vontade de mudar a relação com essas corporações. Governos de direita e de esquerda necessitam de uma força policial para a execução de seus projetos e contenção das demandas populares que os incomodam quando estão "entronados".

Estrategicamente, para que não sejam constrangidos com seus discursos de mudanças, afirmam que estão inovando a forma de atuar da polícia. Que apoiam o policiamento comunitário, mas não alteram a legislação que permita aos cidadãos participar dos debates sobre os rumos da atividade policial; que desejam o ciclo completo para as polícias como forma de melhorar a prestação de serviço, mesmo sabendo que tirarão policiais do serviço ostesivo para ficar burocratizando inquérito policial dentro do quartel; exigem unificação, esquecendo que criarão uma força armada muito mais poderosa que o Exército Nacional, e por ai vão, ano após ano.
Constrangem os policiais com salários insignificantes para a responsabilidade que têm, e encontram soluções inovadoras a cada momento, mesmo que essas ações já tenham sido experimentadas. A Unidade de Polícia Pacificadora, como já foi dito neste Blog, não é nada mais, nada menos, do que aquilo que outros governos já haviam feito. Uma ação essencialmente policial. Acompanhe parte da notícia veiculada no site IG produzida por Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro | 28/02/2012   

"A 17ª unidade pacificadora do Rio foi instalada no São Carlos, em maio de 2011, com 241 PMs, mas não assumiu o controle de fato do território, e o tráfico continuou ativo na região, que engloba ainda os morros da Mineira, Querosene e Zinco. De sua inauguração até ao menos outubro/novembro, quando foi substituído o ex-comandante, capitão PM Luiz Piedade, suspeito de receber R$ 15 mil semanais para não reprimir o tráfico, o crime continuou quase liberado.
É uma UPP que ainda não deu certo e busca auto-afirmação, embora não seja a primeira onde houve investigações de corrupção – em setembro, 30 PMs da UPP do Fallet/Fogueteiro foram investigados, suspeitos de receber dinheiro do tráfico. De acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), a unidade está na fase de "avaliação e monitoramento" e passa por ajustes. "É natural que haja confrontos e operações nesta fase", informou a assessoria de comunicação da CPP.
O São Carlos sempre foi considerado por policiais um dos lugares mais arriscados, pelas dificuldades de se operar e a violenta reação dos criminosos locais às operações, que resultaram em muitas mortes de agentes. Por esse motivo, policiais d
Os dois líderes do tráfico do São Carlos – Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, e Sandro Amorim, o Peixe – traficantes da ADA (Amigos dos Amigos) mantiveram o domínio da favela, mesmo com a instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Os dois foram presos às vésperas da ocupação da Rocinha, por agentes da PF, tentando fugir da favela cercada.
Corromperam policiais e mantiveram as atividades ilegais lá ao menos até janeiro, pondo em xeque o projeto das UPPs no local.
Com a chegada da UPP, Coelho e Peixe passaram a administrar o negócio à distância, da Rocinha – da mesma facção criminosa –, em São Conrado, para onde se mudaram. A quadrilha se adaptou à nova realidade da presença policial no São Carlos, optando por um comércio de drogas sem armas longas ostensivas e usando mulheres como “mulas”, para fazer o transporte principalmente entre as comunidades do Centro e a da zona sul.
Coelho, 32 anos, já comandava o tráfico no Complexo São Carlos desde abril de 2007, quando tomou a Mineira, “controlando a venda de entorpecentes, monitorando a presença de policiais no local e dirigindo todas as atividades ilícitas dos demais integrantes da quadrilha, inclusive nos confrontos com forças policiais”, segundo denúncia do Ministério Público, de 2008.
A associação comercial com a Rocinha remonta a pelo menos 2010, quando Coelho foi novamente denunciado pelo MP, desta vez pela intensa e permanente parceria de negócios ilegais com Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha. Na época, a “mula” mais usada para o transporte ilegal era Adriana Duarte dos Santos, chamada pelo MP de “mulher de confiança da facção” e que “desfruta de íntimo relacionamento” com os traficantes, entregando “mercadoria ilícita pessoalmente” a Coelho...."

O mais curioso de tudo isso é que houve uma "romaria" de autoridades e de especialistas ao Rio de Janeiro para saber qual fora a mágica realizada para o sucesso das UPPs. Outros assumiram a ação do secretário, que é policial, afirmando terem contribuido muito para aquilo. Sem memória e desconhecedores do tema, não se aperceberam que se tratava apenas do velho posto policial com nova direção, colocado no meio de uma vila ou de um bairro. Não sabiam que este velho posto policial não poderia ser responsabilizado por organizar a sociedade local. Sem os demais serviços públicos deixaram os policiais expostos ao poder econômico dos criminosos. E sob a pressão econômica nem juiz, promotor, advogado, político, empresário ou santo, sobrevive. Veja a história do Brasil. O resultado é este ai: uma responsabilidade indevida aos policiais e a confirmação de que a opressão política, realizada pelo braço armado dos governantes, ainda é a medida escolhida para aquele povo que mora nessas áreas abandonadas.