Arrisco afirmar que o número de homicídios que aflige o País, em grande parte, decorre da falta de responsabilidade dos governantes pela não criação e execução de políticas públicas que modifiquem o quadro de insegurança social que predomina em nossas cidades. Com destaque às péssimas condições de bairros e vilas que não recebem investimentos estruturais para contar com postos de saúde, escolas públicas equipadas, áreas de lazer para recreação dos moradores, em especial de jovens, postos policiais descentralizados com policiamento 24 horas, bibliotecas, escolas de capacitação técnica e profissional, postos de trabalho, além de outras necessidades básicas.
O Governo Federal, a partir do Presidente Lula, desenvolve políticas de assistência financeira e social aos mais necessitados. Mas o processo de recuperação da dignidade das pessoas é muito lento e vitimiza, principalmente, jovens moradores das periferias, pobres e negros.
As forças policiais são usadas para solucionar os conflitos sociais e mediar às desavenças entre os cidadãos. Os gestores políticos insistem que esta ação, por si só, tem o dever de reduzir a violência e a criminalidade. Como se tocasse à polícia a responsabilidade de prender todos os indivíduos que excedem os limites da lei, depositando-os em casas prisionais que os tornam, quando ainda não são, profissionais do crime.
Mesmo responsabilizando, de forma indevida, as polícias para este enfrentamento, não garantem ações para qualificar de forma permanente esses profissionais. Mantém corporações divididas por disputas internas, onde os que comandam recebem salários e qualificação superior aos profissionais que atuam nas bases da polícia e que fazem o atendimento direto à população.
O Mapa da Violência 2012 (Instituto Sangari), assim com pesquisas anteriores da Secretaria Nacional de Segurança Pública (homicídios entre 1998 e 2002) e do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (CRISP), apuram que o número de homicídios migra para as cidades menores enquanto nas capitais e região metropolitana há uma sensível redução.
Bastaria conhecer as pseudo estruturas policiais nas cidades do interior do Brasil, o número reduzidíssimo de policiais que para elas são destacados, a falta de equipamentos e de treinamento permanente nas corporações, para compreenderem a gestão amadora e irresponsável a que está submetida a polícia brasileira.
Pouco tem contribuido a aquisição de helicópteros para o uso nas capitais se na maioria das cidades do interior não existem veículos populares e pessoal para o atendimento das ocorrências rotineiras e para o trabalho de prevenção e repressão aos delitos ocorridos. Qualquer "ladrão de galinha ou desordeiro" sabe disso. Conhece a estrutura da polícia no interior. E para lá se desloca para suas práticas criminosas, fazendo vítimas que não conseguem se defender e os próprios policiais de refém.
Um País continental e sem políticas pública de segurança pública que garanta capacitação e gratificação digna aos servidores policiais abandonados à própria sorte. Existe maior incentivo a violência do que deixar nossas rodovias sem fiscalização pela falta de policiais rodoviários federais ou estaduais, permitindo que armas, drogas, contrabando e o que bem entenderem, por ali circule?
Ou se enfrenta esta verdade e mudamos a insegurança e o número de homicídios no Brasil, ou continuaremos financiando pesquisas para chegarmos sempre às mesmas conclusões. E ao final, ouvindo a constatação de que a polícia é a única culpada pela violência. Como se dela dependesse os investimentos públicos necessários para sua qualificação.