O sindicalista policial necessita ser profissionalizado.


A organização representativa nacional dos policiais civis, segmento considerado da base da polícia, portanto, o mais importante na prestação do serviço à população, exige que a representação sindical política seja profissionalizada.

Já foi o tempo em que posições radicais e o velho “tapa na mesa” impressionavam os interlocutores políticos. Eles já tomaram consciência de que o movimento representativo nacional dos policiais da base é desarticulado e pouco representativo porque fragilizado por disputas pessoais que prejudicam a definição dos pleitos coletivos.

A desarticulação tem sido demonstrada pelo encaminhamento das demandas de forma fragmentadas, assim como percebida nos debates ocorridos em fóruns nacionais. A vontade de alguns em sobrepor-se aos interesses do segmento tem dividido o movimento em disputas injustificáveis. Poucos demonstram espirito colaborativo na busca de uma conciliação nacional, de forma que os pleitos que interessam a categoria sejam encaminhados coletivamente.

No atual momento três temas estão na pauta de debates entre as lideranças nacionais: a lei geral, carreira única e Cobrapol.

A Lei Geral, processo iniciado por vontade do Poder Executivo (2005), teve seu projeto encaminhado pela Casa Civil ao Congresso Nacional em 2007, ocasião em que foi juntado a um substitutivo do ano 2000. Desde então as lideranças sindicais policiais têm debatido a melhora no projeto e, todas às vezes, encerram a discussão radicalizando posições como se desconhecessem o complexo processo de negociação mantido tanto com o Poder Executivo quanto com o Poder Legislativo, onde ora se encontra.   

O último evento ocorrido em Cuiabá comprova esta afirmativa. Apesar de todos saberem que a Lei Geral organizará nacionalmente as 27 policiais civis brasileiras alguns insistem em afirmar que “se não for a Lei Geral que desejam é melhor não ter nada”. Surpreende tal afirmativa, soando apenas como ingenuidade, já que todos deveriam saber que a Lei Geral unificará e fortalecerá a polícia civil que é atacada pelo Ministério Público e Polícia Militar que tentam assumir a investigação criminal.  

A Lei Geral dará uma nova visibilidade á Polícia Civil. Sete anos de debates e cada nova liderança que surge “afirma desconhecer o texto” diz “não gostar dele” como se o interesse nacional da Lei tivesse que passar pela vontade de um ou de outro e não pela construção coletiva de interesses tanto dos policiais quanto do executivo e do legislativo.

Profissionalizar este debate é conscientizar-se de que nunca existirá uma Lei ideal, já que ela é elaborada a partir de disputadas de interesses de segmentos, mas que é possível termos uma boa lei.

Carreira Única - Nos últimos meses retornou a debate a tese, há muito conhecida e debatida entre policiais, estaduais e federais, sobre sua possibilidade jurídica. Seus defensores acreditam estar trazendo uma nova tese e tem sustentado que a viabilidade jurídica garantiria o convencimento político e a mudança na tradição sobre a organização da estrutura policial brasileira.

Para que não haja mal entendido, afirmo que a carreira única é uma boa forma de estruturar a organização da polícia civil. Mas tenho plena convicção de que apenas isto não fará uma polícia melhor nem pior. Mudará as relações internas entre servidores (agentes e delegados), mas nada mudará para fora.

Nosso posicionamento é no sentido de que é insuficiente a viabilidade jurídica se não houver vontade política para a mudança.  O que move e é determinante na vida do legislador é a vontade política. A questão jurídica apenas é indicativa que a propostas não será inconstitucional. No caso em discussão é inconstitucional. Necessário que haja a vontade política para alterar o artigo 144 reestruturando a nova polícia.

A simpática e otimista fala do Procurador Geral que esteve em Cuiabá foi feita porque sabia qual o público que o assistia Se for convidado pelos delegados para uma palestra na Adepol dirá, sem perder os argumentos legais, que, apenas por ser viável juridicamente, nunca ocorrerá esta mudança enquanto não existir a vontade política de modificar esta tradição secular.

Pode-se perguntar: se considerarmos a hipótese da possibilidade jurídica (como considero) isto bastará para que exista a carreira única? Se o renomado consultor, oriundo do STF, der o parecer de “oitenta laudas” afirmando ser juridicamente possível a existência da carreira única, quem encaminhará o projeto de alteração para o Congresso Nacional? O Poder Judiciário? A Procuradoria Geral da União? Ou será o Poder Executivo?  E para que o Poder Executivo faça este encaminhamento não é necessária vontade política?

É ai que nos amparamos. A vontade política prevalece à viabilidade jurídica.

A manifestação de algumas lideranças após a fala do Procurador surpreendeu-nos porque, sem uma avaliação profissional, discursando emocionados, como se houvessem encontrado um caminho iluminado, afirmaram que deixariam a Lei Geral de lado e iriam investir na carreira única.

Mesmo que isso fosse possível e acreditando que o encaminhamento sugerido possa resultar numa ação concreta de projeto ao Congresso Nacional será que alguém imagina que esse processo ocorrerá em menos de cinco, dez, quinze ou vinte anos? E até lá?

Temos o direito de ser inocentes, mas proibidos de ser ingênuos.

Cobrapol

Desvinculando qualquer avaliação sobre as pessoas dirigentes da Cobrapol, o que não me compete avaliar, mas apenas verificando sua atuação é possível afirmar que os policiais civis nunca tiveram uma Confederação que organizasse suas demandas políticas. Quem não acreditar nesta afirmativa compare as ações e a estrutura da Confederação Cobrapol com qualquer outra Confederação instalada em Brasília. Quais dirigentes sindicais não sabiam que os sindicados são filiados a Federações e estas a Confederações?  Quais dirigentes sindicais não sabem que suas demandas regionais são canalizadas via federação e representadas pela Confederação?

É chegada a hora das lideranças policiais civis brasileiras, organizadas em suas federações, garantir uma nova estrutura na Confederação de forma que tenha representativa condizente com sua importância. Orientada por uma diretoria colegiada e não apenas por um dirigente, com articulações políticas fundamentais ao encaminhamento dos pleitos, reconhecida, ouvida e respeita pela forma de atuar.

Necessário que essa nova Confederação atue de forma colegiada mediando às relações e interesses das Federações mantendo em Brasília uma verdadeira embaixada que garanta apoio político e técnico para as demais entidades regionais. Servindo de referência e reconhecida por todos os policiais civis brasileiros.

Para que ocorram esses avanços e as lideranças sindicais não estejam em permanente disputa e conflitos entre si, confundindo sua forma de luta regional com o necessário desenvolvimento de estratégias de luta nacional, faz-se necessário a profissionalização e sua capacitação como única forma de avançar.