"De acordo com o promotor, Ferreira não aparentava estar sofrendo um infarto".

A saúde pública brasileira, muito pior do que a segurança, é administrada de forma elitizada. Profissionais de saúde e hospitais, públicos ou particulares, primeiro desejam saber se o plano de saúde garante o atendimento, mesmo quando exista a necessidade dele ser emergencial.
 
Agrava-se a esta realidade a cor do paciente. Aqueles de cor parda ou negra sabem que estão condenados a permanecer no "fim da fila" já que, parecem, não terão condições financeiras de dar garantias para receber um atendimento digno e ágil.
 
E de nada adianta a polícia indiciar os gestores hospitalares pela suposta responsabilidade, dolosa ou culposa, pela falta de atendimento emergencial que identifique a situação grave que levou o paciente a procurar socorro. Ninguém será responsabilizado porque assim continua sendo o atendimento de saúde no Brasil.
 
Pardos e negros, ricos ou pobres, devem saber que não contam com um atendimento emergencial de saúde. A não ser que paguem antecipadamente e que identifiquem o problema antes que ele venha acontecer.
 
Se for um infarto, segundo a notícia abaixo, que ele venha com um anúncio claro e indicativo que justifique a quebra da burocracia e permita o atendimento antecipado.
 
Lei a notícia GI DF - 07/12/2012
 
"TJDF decide arquivar inquérito sobre negligência de hospitais a secretário. Determinação segue pedido de arquivamento do Ministério Público do DF.

O secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira (Foto: Gervásio Baptista / Agência Brasil)
Duvanier Ferreira morreu de infarto após passar por três hospitais, em janeiro/2012.
 
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) divulgou nesta sexta-feira (7) que decidiu pelo arquivamento dos inquéritos que investigavam a suposta omissão de socorro de dois hospitais particulares do DF no atendimento ao secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira. A determinação segue pedido de arquivamento feito pelo Ministério Público do DF (MPDF). Cabe recurso à decisão.
 
O G1 não conseguiu entrar em contato com a família de Ferreira. O então secretário morreu em janeiro com suspeita de infarto no miocárdio, depois de procurar atendimento em três hospitais particulares de Brasília até ser atendido. Na época, o Hospital Santa Lúcia disse não ter negado atendimento. Já o Hospital Santa Luzia informou não ter registro de qualquer caso de emergência ou negativa de atendimento para Ferreira.
 
Além da suposta omissão de socorro pelos hospitais, o MPDF apurava a existência de crime por negativa de atendimento pelo plano de saúde do então secretário. De acordo com o promotor Diaulas Ribeiro, do MPDF, não há elementos que indiquem que os crimes tenham sido cometidos.
 
O promotor afirmou que Ferreira sabia que os dois hospitais não atendiam pelo seu plano de saúde. O TJDF informou que acatou o pedido de arquivamento do MPDF mesmo sem concordar com a manifestação do órgão.
 
Segundo o promotor, o então secretário foi até o guichê de um dos hospitais solicitando informações sobre o valor da consulta e as formas de pagamento sem dizer que estava sofrendo infarto. No outro, apenas a mulher dele foi até o guichê enquanto ele permaneceu no carro. Eles teriam demorado a chegar no terceiro hospital, onde ele finalmente foi atendido, por terem passado antes em dois bancos para tentar sacar dinheiro.
 
“Em nenhum momento falou-se em risco de vida ou infarto a funcionários dos hospitais. No primeiro hospital, ele esperou quatro minutos para ser atendido. No segundo, ele ficou no carro e a esposa dele levou 47 segundos para solicitar informações ”, disse Ribeiro. De acordo com o promotor, Ferreira não aparentava estar sofrendo um infarto.
 
'Providências'
Em janeiro, ao tomar conhecimento da morte de Duvanier, a presidente Dilma Rousseff solicitou ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que apurasse a suposta negligência no atendimento ao secretário. Dilma teria ligado para o ministro e pedido que "providências exemplares" fosse tomadas em relação ao caso.
 
Naquele mês, o delegado-chefe adjunto da 1ª DP, Johnson Kenedy, afirmou que a suposta omissão de socorro e negligência dos dois hospitais no atendimento ao secretário podia ser qualificada como homicídio culposo, em que não há intenção de matar. A delegacia era responsável por um dos dois inquéritos que foram abertos para investigar o caso.
 
Já a Delegacia do Consumidor do Distrito Federal (Decon), que abriu investivação paralela, concluiu em fevereiro o inquérito sobre a possível negligência no atendimento a Duvanier. De acordo com a delegada Alessandra Figueiredo, o inquérito aponta que os hospitais por onde o secretário passou recusaram atendimento preliminar antes da efetuação de pagamento."