Rafaela Silva, 20 anos, moradora da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e revelada por um projeto social, categoria leve (até 57kg) do judô.

Esta menina, negra, de rara qualidade esportiva, originária de um mundo sofrido, e que foi descoberta para o judô graças ao seu esforço e trabalho, imaginou que representar o Brasil numa Olímpiada a transformaria numa cidadã brasileira a ser respeitada. Não sabia que os comentaristas midiáticos apenas sustentam aqueles competidores que permanecem em primeiro lugar. Para a mídia errou pagou, mesmo que ainda jovens com grande potencial de chegar ao topo de suas carreiras.

Comentários ferozes induzem uma reação na mesma intensidade de indivíduos violentos. Em suas crônicas improvisadas deixam de registrar que nossos jovens, principalmente os que praticam esportes individuais, vivem de superações e de dificuldades, sendo obrigados a enfrentar competidores internacionais que nascem em países onde têm moradia digna, alimentação saudável, escola, programa de saúde e acompanhamento profissional, desde criança.

Ela não precisa do apoio nem ser recebida pelo ministro, afinal ele ainda é novo no esporte. Devemos apoiá-la para ela aprenda a viver neste País, e se for seu destino, em 2016 atender os anseios daqueles que tem o dom de exigir sem nada doar.
 
"A judoca Rafaela Silva informou por meio de comunicado emitido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) que não pretende buscar seus direitos após ter sido vítima de ofensas racistas por meio do Twitter após a derrota nas oitavas de final da categoria até 57 kg da Olimpíada de Londres. Ainda assim, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, insiste que o caso deve ser investigado pela Polícia Federal.
De acordo com a assessoria do ministério, Rebelo pediu que a PF se envolva no caso para identificar o IP dos autores das ofensas, já que se trata de um crime inafiançável, apesar do desejo da atleta em não levar o caso adiante.
De acordo com Rosicléia Campos, treinadora da Seleção feminina, a atleta recebeu mensagens de cunho preconceituoso pela rede social após sua eliminação para a húngara Hedvig Karakas.
"Chamaram de macaca, que tinha que ir para jaula. Que país é esse que a cor de pele justifica um ato assim?", questionou a técnica. Rafaela recebeu ofensas e cobranças pesadas por parte de internautas após sua derrota para a a húngara Hedvig Karakas por desclassificação após tentar um golpe ilegal.
Uma usuária do Twitter reclamou com a atleta pelo microblog: "cara, que vexame. Não te ensinaram a jogar limpo? Mais uma que foi para fazer o Brasil passar vergonha e chorar", escreveu @Dri_Caldeira. Irritada, Rafaela respondeu: "e quem é você pra falar de mim? Outra que não tem o que fazer fica aqui tomando conta da vida dos outros".

Entre as principais acusações, a internauta chamou a atleta de "desonesta" e disse que "faltou espírito olímpico": "é dinheiro do povo que te manda pra Londres, emporcalhar o nome do País!! Chega de desonesto no país!!", continuou a tuiteira.

OAB condena ataques racistas à judoca Rafaela Silva em Londres:
Também nesta terça-feira, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ), Wadih Damous, manifestou irrestrita solidariedade à judoca Rafaela Silva.
Segundo Damous, é inacreditável que manifestações de cunho racista como essas continuem a acontecer. "A judoca Rafaela, futura campeã nas Olimpíadas de 2016, no Brasil, merece o nosso incentivo e a nossa solidariedade e não agressões de cunho racista".
Damous lamentou que as rede sociais, concebidas como instrumento de democratização da informação e da comunicação, tenham sido desvirtuadas, tornando-se cenário para ofensas à honra e à reputação das pessoas. "Os usuários deste tipo de comunicação devem tomar cuidado para não agredirem as pessoas usando palavras de cunho racista ou qualquer outro tipo de ataque pessoal e que, certamente, vão virar processo na justiça". Allan Farina/Terra.